UM PROJETO

FOTOGRAFIA POR MARCELO LÉLIS
TEXTO DANIEL NARDIN

ATENDIMENTO PRÉ-NATAL INCLUI ACOMPANHAMENTO MÉDICO, ENFERMAGEM, SAÚDE BUCAL E MENTAL

A unidade fluvial conta com equipe médica, de enfermagem e possui consultório odontológico e de atendimento psicossocial. Nascida em Abaetetuba, a dentista Jenifer de Souza Cardoso, de 28 anos, tem dois anos de formada e trabalha há quatro meses na embarcação. 

 Foto: Marcelo Lélis

 Jenifer de Souza Cardoso, dentista, nascida em Abaetetuba e formada na capital Belém.

 

“O pré-natal odontológico é quando a mãe vem aqui pela primeira vez, vai começar a cuidar da saúde no geral, isso inclui o atendimento odontológico. Com esse primeiro contato, a partir daí, ela vai poder prevenir da criança nascer prematura e com baixo peso”, explica. 

Segundo ela, procedimentos simples como tratar uma cárie evita problemas sérios. “Uma cárie mal cuidada, por exemplo, leva à perda do dente, gera presença de novas bactérias e essa bactéria pode cair na corrente sanguínea e levar até a má formação do bebê”, explica. 

Para ela, o atendimento com as mães ajuda a prevenir de maneira simples problemas que podem se tornar graves. “Até pouco tempo não se tinha tanto esse olhar com saúde bucal. Aqui na UBS a gente educa, esclarece e as mães tem mais orientação, mais acompanhamento e podem melhorar”, afirma. O consultório não possui equipamentos sofisticados, mas o suficiente para realizar procedimentos como limpeza, extração e restauração “Só isso já faz muita diferença, para a mãe e para a criança”, lembra. 

Um serviço que ainda tem desconfiança das mães e que está engatinhando é a oferta de atendimento psicológico para os moradores das ilhas, incluindo as mães ribeirinhas.

 Foto: Marcelo Lélis

 Elenilce e Francielton, agilidade no atendimento permitiu cirurgia para a filha, que apresentou catarata congênita.

 

Para a psicóloga Allana Beatriz Costa Maia, que realizou em agosto sua primeira viagem na unidade, a conquista da confiança com os moradores é um processo que pode levar um tempo, até por ser uma modalidade de atendimento que não costumava ser oferecida. 

“Nesse caso das mães grávidas, buscamos envolver o pai também, pois é uma família. A gente tenta fazer esse acolhimento sobre essa demanda que ela tá trazendo, sobre esse novo ser humano que está vindo, sobre essa nova função da vida dela e do homem, que passa a ser pai. Tem muitos casos de gravidez não planejada e aí isso se torna ainda mais importante”, destaca. 

Ela também reforça a importância do acompanhamento para mulheres que sofreram a perda com um aborto. “Nesses casos é de suma importância o acompanhamento psicológico, porque é um processo de luto e que pode às vezes ter algum sentimento de culpa envolvido”, aponta.

Fora o atendimento pontual, as equipes seguem acompanhando as mães e a proximidade permite maior atenção para casos específicos, articulando atendimentos mais complexos ou de urgência, nas unidades de referência em Abaetetuba ou mesmo na capital, Belém.

Foi o que ocorreu com Elenilce Rodrigues, de 30 anos. Acompanhada do marido, Fracielton Quaresma, de 34 anos, os dois mantêm a rotina de ir até a UBSF sempre que a embarcação está próxima da comunidade. Logo após o primeiro mês de nascimento da filha, com apoio da equipe médica, identificaram que a criança tinha catarata congênita.  

“Verificamos aqui na unidade, que nos encaminhou para a cidade e realizamos os exames. Aí a equipe médica apoiou muito para que ela fizesse logo a cirurgia e usasse os óculos, que está ajudando, mas precisa sempre fazer exames e ter acompanhamento”, destaca. Elenilce é outra mãe ribeirinha que também passou pelo trauma de ter perdido um bebê ainda durante a gestação. “Naquela época não tinha a unidade fluvial, então era bem mais difícil fazer o acompanhamento certinho”, afirma.