Ep 5 - Brechós em Belém favorecem economia circular e criativa para formar novos consumidores

Com foco em reutilizar e reduzir o desperdício, brechós reforçam a prática do consumo consciente. Feiras e eventos também ajudam a divulgar economia criativa na capital paraense


Por Aline Brelaz, com imagens de Filipe Bispo, conteúdo de redes sociais de Amanda Campelo (@amandakaoma) e produção e edição de Carla Fischer. Esta série foi produzida com o apoio do Sebrae Pará. 

O que os brechós têm a ver com o debate sobre mudanças climáticas e a 30ª Conferência das Partes (COP) da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em Belém em novembro de 2025? À primeira vista, a conexão pode parecer distante. No entanto, essa atividade em ascensão no setor da economia circular e criativa exemplifica uma prática concreta de sustentabilidade. Mais do que um negócio, os brechós representam um movimento de respeito ao meio ambiente, alinhado diretamente às pautas da agenda climática global. 


“Somos um segmento considerado um braço amigo do meio ambiente. Os brechós fazem as peças circularem,impedindo que sejam descartadas, para que ganhem novos usos. É, como dizemos, uma revolução na moda”, afirma Ana Gibson, vice-presidente da Comissão de Direito em Moda da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Pará.

Além de advogada, Ana é uma das principais ativistas da economia circular na capital paraense. Com mais de 500 mulheres da Região Metropolitana de Belém (RMB), ela tem ajudado a fortalecer o segmento nos últimos três anos. A empreendedora destaca que viver do brechó já é uma realidade na região, mas alcançar esse patamar exigiu muita dedicação, consciência ambiental e um esforço constante para profissionalizar a atividade.

Já no final de dezembro, aproveitando a proximidade do Natal, foi realizado o Encontro de Brechós do Norte, com cerca de trinta expositores. O evento, o último do ano entre vários realizados nessa linha, foi mais uma oportunidade de oferecer aos consumidores roupas, sapatos, bolsas e acessórios em um único espaço, de forma tranquila e organizada, sempre com o consumo consciente e com fortalecimento do empreendedorismo feminino. 

Para a brecholeira Gilanna Falcão, o movimento tem tido mais força e destaque na região Norte. "O movimento do brechó no Brasil está em crescimento e ainda mais na nossa região. Então o intuito é implementar essa questão da sustentabilidade e do consumo consciente. Ainda mais com esse momento, que o planeta grita por isso e nós, aqui em Belém, vamos receber um evento tão importante como a COP 30", avalia. 

Sebrae impulsiona a profissionalização dos brechós em Belém

Para atingir o atual estágio de organização e impacto, as líderes do movimento apresentaram um projeto ao Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/PA), que desenvolveu um programa de capacitação focado na qualificação completa da atividade. O objetivo é alinhar o segmento às práticas ambientais e promover sua inclusão no contexto de ações e eventos que serão gerados por conta da COP 30. “Atuamos para ajudar a impulsionar a gestão, sustentabilidade e inovação do negócio, por meio de informação, orientação, capacitação e consultoria”, explica Alessandra Lobo, gestora de Economia Criativa da Unidade de Negócios de Impacto do Sebrae/PA.


Ela esclarece que já existem resultados de economia criativa, onde a economia circular faz parte. A percepção de faturamento dos donos das empresas de economia criativa cresceu aproximadamente 40% em 2024, comparado ao ano de 2023 no Pará. “Os brechós promovem a economia circular, reduzem resíduos têxteis e emissões de carbono ao prolongar a vida útil das roupas e evitar a produção de novas peças. Além disso, incentivam o consumo consciente, educam sobre o impacto ambiental da moda rápida e tudo isso está ligado diretamente aos objetivos da COP 30”, assegura Alessandra Lobo. 

As empresas que atuam neste segmento tendem a aumentar seu faturamento e acessar novos mercados, segundo Alessandra. Da mesma forma, Ana Gibson garante que, atualmente, as mulheres brecholeiras, como são chamadas entre si, podem provar esses dados nos encontros que são promovidos, onde aprendem diversas práticas e conceitos para manutenção e prolongamento do produto, evitando que seja jogado à natureza, usam práticas mais sustentáveis, como substituir sacolas plásticas por  biodegradáveis, entre outras.

Movimento “Bora Garimpar?” dá visibilidade e gera maior integração entre consumidores e brecholeiras

A partir da qualificação, as brecholeiras criaram o movimento “Bora Garimpar” (@boragarimparbelem), liderado pela ativista Ana Gibson e que tem tido muita visibilidade nas redes sociais, aumentando também o público a cada edição, permitindo às empreendedoras um maior patamar de vendas.

A capacitação realizada pelo Sebrae/PA para as brecholeiras, segundo Ana Gibson, visa a qualificação da atividade para a COP 30. As empreendedoras fizeram cursos de costura, tratamento e melhoramento das peças para serem reutilizadas, assim como cursos de marketing, vendas online, precificação, contabilidade, curadoria das peças, entre outros.

Por meio do movimento “Bora Garimpar” - expressão que define a busca por peças que atendam ao gosto do público consumidor de brechós - o Sebrae/PA promoveu, durante quatro dias, uma loja conceito pop-up (estabelecimento físico aberto temporariamente por uma marca) no Shopping Grão Pará, onde também ocorreram as capacitações. “A parceria com o Sebrae foi essencial para alcançarmos outro nível, sendo fundamental para aprendermos conceitos e práticas de negócio, além de profissionalização”, explica Ana Gibson.

Após o período de qualificação profissional, surgiu entre as brecholeiras que atuam online a necessidade de um espaço físico permanente para o garimpo. Foi então que nasceu um espaço na Casa Namata (@casa.namata). “Notamos que nossos consumidores desejavam continuar garimpando os produtos, sem depender apenas dos encontros. Hoje, temos a “casa-conceito”, onde disponibilizamos os produtos e oferecemos uma consultoria de estilo. Assim, o consumidor pode compreender melhor suas necessidades, tudo isso em um ambiente confortável e múltiplo, que conta com um café, produtos de artesanato e economia criativa, obras de arte e é integrado ao verde, já que é uma casa de paisagismo”, explica Ana.

Além de tendência sustentável, brechós são sinônimos de variedade

Ana Gibson destaca que é possível viver do brechó atualmente, mas a atividade continua em processo de evolução. “Ser sustentável é uma construção constante. A pandemia evidenciou isso. Muitas pessoas com armários cheios perceberam a necessidade de ter menos e de se conscientizar sobre o que realmente é útil e necessário. Não se trata apenas de seguir tendências passageiras ou ser engolido pela cadeia produtiva da moda, mas de entender o que sua cultura, seu corpo e sua vivência exigem. O brechó resgata peças que, muitas vezes, não estão disponíveis na fast fashion (lojas de grandes magazines, com produção em larga escala)”, ensina Ana.

Claudiane Portilho, psicóloga e consumidora de brechós há três anos, conta que as opções são mais variadas e de melhor qualidade do que no mercado convencional. “Além de serem mais acessíveis do que nas lojas de shopping, os brechós oferecem uma seleção diversificada de produtos no mesmo local, com pessoas acolhedoras e prestativas, que ajudam a montar os looks. Além disso, as peças circulam de forma mais responsável, tanto para nós, consumidoras, quanto para o meio ambiente”, assegura. Ela acredita que, assim como no Sudeste, o segmento de brechós tem grande potencial para se expandir pela região Norte.

Tânia Almeida, brecholeira iniciante, também está entusiasmada com a atividade, que considera um complemento de renda e uma forma consciente de dar nova vida a peças que ficavam há muito tempo no armário, muitas vezes sem utilidade. Ela afirma ter aprendido, na prática, o significado de desapego e que a moda sustentável se baseia em fazer com que os produtos circulem.

Para conhecer mais e seguir

Casa Namata - Av. Conselheiro Furtado, 287
@casa.namata
@boragarimpar

 


Leia mais da série

Ep 1 - Pequenos negócios em Belém miram na sustentabilidade para construir legado mesmo após alta da demanda em 2025 com COP 30

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Ep. 3 - Nas ruas e nos rios: mobilidade busca qualificação para atender melhor alta de turistas na capital paraense

Ep. 4 - Hostel na região das ilhas une conforto com experiência imersiva de olho na demanda com a COP 30

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