
EP. 2 - Tacacazeira busca qualificação para atender novos amantes da culinária paraense
Por Adriana Pereira, com imagens de Marcio Nagano, conteúdo de redes sociais de Marcos Médici (@mediciland) e produção e revisão de Carla Fischer. Esta série especial foi produzida com o apoio do Sebrae Pará.
Como diz a canção eternizada por Pinduca, quem chegava ao Pará e parava, se tomasse açaí, ficava. Agora, outro produto típico da culinária amazônica faz uma menção direta ao território. Afinal, é quase impossível tomar ou mesmo mencionar a palavra “tacacá” e não lembrar do hit “Voando pro Pará”, com a voz característica de Joelma. Considere então a experiência de tomar a iguaria observando as mangueiras do centro da cidade e a icônica Basílica de Nazaré, centro religioso do Círio de Nazaré e um dos pontos turísticos obrigatórios de Belém, capital do Pará.
É nesse ponto privilegiado, dividindo espaço na calçada com os pedestres, que está a barraca de Ivanete Pantoja, ou simplesmente Dona Ivonete. De cada panela, um cheiro único que atrai clientes a qualquer hora. Maniçoba, vatapá e, claro, um dos carros-chefe: o tacacá.
Com seu caldo vibrante de tucupi, goma de macaxeira, jambu e camarões frescos, esse prato carrega séculos de história e simboliza a tradição gastronômica que faz parte da identidade cultural do Pará, sendo uma das iguarias mais emblemáticas da culinária paraense e amazônica.
A barraca “Raízes da Mandioca” (@raizesdamandioca) já está na segunda geração. Os irmãos Ivonete e Ivonildo Pantoja deram seguimento ao ofício da mãe, que está no mesmo ponto há cerca de 60 anos. A paisagem mudou muito, o ritmo no andar dos pedestres também, mas é cada vez maior o número de clientes que optam por dar uma pausa para degustar a iguaria.
Ivonete é uma das dezenas de referências entre as tacacazeiras de Belém. Os clientes mais exigentes e de paladar apurado - ou treinado - têm suas preferências, com um tucupi mais azedo, salgado ou mesmo mais levemente adocicado. Algo que o turista de primeira viagem ainda vai precisar entender: cada tacacazeira produz um tacacá único, pela forma do preparo e da dosagem dos ingredientes.
“Foi aqui nessa barraca que ela tirou nosso sustento e nos criou e hoje minha sobrinha é até formada em biomedicina por conta de cada dia de trabalho aqui. Aqui é um pouco da história da nossa família também e, além da qualidade dos nossos pratos, a gente conquista pelo atendimento”, ensina Ivonete.
Preparação para atender nova onda de procura pelo tacacá
Dona Ivonete já percebeu em 2024 um aumento significativo nas vendas e chegadas de novos clientes, que sentam para experimentar o tacacá, que cada vez acaba mais cedo. A expectativa é que no ano da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), suas vendas - e o próprio tacacá - ganhem ainda mais notoriedade e reconhecimento, mas sem perder a tradição.
Para Ivonete, os eventos de 2025 em Belém serão mais uma oportunidade para o empreendedorismo local e a valorização da cultura amazônica. Para atender os turistas internacionais, ela tem feito cursos de inglês básico e, também com apoio do Sebrae, terá um cardápio bilíngue, em português e inglês.
A busca por transformação e crescimento é evidente em diversos aspectos do negócio de dona Ivanete. Com o apoio do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/PA), ela participou de cursos sobre gestão financeira e boas práticas no manuseio de alimentos, o que não apenas aprimorou suas habilidades, mas também ajudou a posicionar seu negócio no mercado.
“Antes, não sabíamos quanto a gente ganhava por porção de tacacá. Hoje, sabemos exatamente o valor de cada unidade, o que nos ajudou a ajustar os preços e melhorar nossa rentabilidade”, conta. O aumento nos custos, como a necessidade de adotar utensílios descartáveis por questões sanitárias após a pandemia, foi um desafio, mas dona Ivanete acredita que essa mudança foi essencial para garantir a saúde de todos, especialmente após os impactos da crise sanitária.
“No começo, foi difícil, o custo de tudo subiu, mas percebemos que era necessário, principalmente para garantir a saúde de todos — tanto dos clientes quanto dos colaboradores. Tivemos que nos adaptar, mas isso foi para melhor”, explica.
Essa capacitação dos microempreendedores para a COP 30 tem sido uma prioridade para o Sebrae. A analista técnica Nayany Costa explica que os principais desafios locais enfrentados incluem a adaptação dos produtos, a barreira linguística, a padronização dos processos de produção e a própria divulgação.
O Sebrae oferece uma série de cursos voltados para a gestão de negócios, marketing digital e inovação em produtos, que têm impactado diretamente a profissionalização dos microempreendedores. “Esses cursos não só proporcionam conhecimentos técnicos, mas também ajudam na criação de uma rede de contatos, o que aumenta a competitividade e empodera as empreendedoras locais”, destaca Nayany.
A analista também reforça o impacto positivo que a participação da gastronomia local na COP 30 pode trazer a longo prazo. “A visibilidade internacional abrirá portas para novas parcerias e oportunidades de negócios, o que pode transformar o cenário gastronômico do Pará”, afirma.
A participação da gastronomia paraense na COP 30 deve trazer benefícios a longo prazo. Nayany acredita que o evento será uma excelente vitrine para que o mundo conheça a culinária do estado, o que poderá gerar uma explosão de interesse por produtos locais. "A exposição na COP 30 pode gerar novas oportunidades de negócios, como parcerias com distribuidores internacionais, além de atrair mais turistas para a região após o evento", explica.
Com isso, a gastronomia local ganha uma chance única de se destacar globalmente, e as microempresas podem colher frutos dessa visibilidade. “Acredito que a COP 30 vai abrir portas para que o turismo na região cresça e que mais pessoas conheçam nossa culinária. Este é o momento de mostrar que a Amazônia vai além da floresta, que nossa cultura e nossos saberes também precisam ser preservados e valorizados”, afirma dona Ivanete. Para ela, a visibilidade que Belém ganha com a COP pode ser a chave para fortalecer as tradições e impulsionar a economia local, destacando o papel essencial das mulheres, como as tacacazeiras, no processo de transformação e resistência cultural da região.
Para conhecer mais e seguir
Barraca Raízes da Mandioca (Avenida Nazaré, 1157)
@raizesdamandioca
@mediciland (para dicas de locais para conhecer mais da culinária local)
Leia mais da série
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Ep 5 - Brechós em Belém favorecem economia circular e criativa para formar novos consumidores