
Ep 1 - Pequenos negócios em Belém miram na sustentabilidade para construir legado mesmo após alta da demanda em 2025 com COP 30
Por Daniel Nardin, com imagens de Marcio Nagano, conteúdo de redes sociais de Lollie Coelho (@lolliecoelho) e produção e revisão de Carla Fischer. Esta reportagem foi produzida com apoio do Sebrae Pará.
Logo que desembarcou em Belém, capital do Pará, o engenheiro canadense Eric Miatello, de 31 anos, tirou a jaqueta ao sentir o calor tradicional da cidade, mesmo nas primeiras horas da manhã e ainda nos terminais do aeroporto. Nos dias seguintes, acostumou-se com o clima e não será a alta temperatura a lembrança mais marcante que vai carregar na bagagem da memória quando retornar ao seu país de origem. “O que mais me impressionou em tudo que vi foi a hospitalidade das pessoas. Elas realmente querem lhe ajudar, te ouvir, têm paciência em compreender o que você diz. E lhe apresentam tudo, com tanto orgulho e amor pelo seu lugar. É isso que achei mais diferente de todos os lugares que visitei”, afirma o turista.
Eric é um dos 4 milhões de passageiros que circularam pelo Aeroporto Internacional de Belém ao longo de 2024, uma recorde histórico no terminal, que registrou um aumento de 8% em relação ao ano anterior. A marca, no entanto, tem data de validade. O número deverá ser superado com facilidade ao longo de 2025, ano que marca a realização da 30ª edição da Conferência das Partes (COP) da Organização das Nações Unidas (ONU) para as mudanças climáticas na capital paraense.
A experiência de Eric é a mesma que muitos turistas vão procurar quando chegarem em 2025. Buscam uma vivência imersiva, têm interesse em produtos locais, querem provar de tudo um pouco. “Quando ouvia falar sobre a Amazônia, imaginava muita floresta, muitos animais. Mas não imaginava a quantidade de pessoas, a rica gastronomia, os sabores e sons, a forte cultura. Em poucos dias, já visitei muitos lugares e pretendo ainda ir a locais próximos, não só conhecer o centro da cidade. Acho que essa experiência que muita gente também vai buscar aqui quando vir para essa região no próximo ano”, afirma o engenheiro.
Eric também comenta sobre uma das cenas que chamou sua atenção na cidade. Ao observar os pontos de venda de açaí, comuns em cada esquina de Belém, Eric comparou com a conhecida rede de cafés Starbucks. “Não pelo padrão da loja, claro. Mas sim pela quantidade: tem em quase toda esquina e pelo visual você já identifica o que tem lá”, disse.
Porém, é nesse ponto que reside uma das características da “escala” na Amazônia. Muito mais que uma rede de uma empresa só, o açaí - para citar apenas um dos produtos típicos da região - é a marca em si e é produzido por milhares de batedores, que recebem o fruto de centenas de comunidades das ilhas e municípios próximos a Belém.
Na Amazônia, ao invés de uma grande marca centralizada, o que se vê é uma rede de diferentes conexões e uma cadeia produtiva social, que tem como base os insumos da biodiversidade, estruturada por dinâmicas próprias de relações econômicas. É essa junção e contexto que ajuda a caracterizar um pouco o termo que vem sendo utilizado para boa parte dos produtos com origem de seus insumos da floresta: a sociobioeconomia.
O termo é ainda pouco utilizado por muitos que já o realizam na prática há décadas. Mas, conceitualmente, ajuda a explicar a junção das três esferas (social, biodiversidade e economia), tão importantes na região, tendo a sustentabilidade como central, palavra que inclusive rima com hospitalidade, como mencionou o turista canadense sobre sua principal recordação da cidade.
Empreendedores vivem desafio de impulsionar negócios e serviços sustentáveis na capital da COP 30
Desde que foi anunciada como sede do maior evento global que debate metas e compromissos dos países membros da ONU para - entre outros temas - reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a capital paraense foi alvo de desconfiança sobre sua capacidade logística em receber um fluxo intenso de 60 mil pessoas durante quinze dias. E ainda maior, se considerados os eventos preparatórios que a cidade já tem recebido, o que contribuiu para o recorde de turistas já em 2024.
Além das obras físicas de mobilidade e do esforço para aumento de vagas de leitos na rede hoteleira, o setor de prestação de serviços e produtos encontra no cenário de 2025 uma oportunidade para impulsionamento que consolide a cidade como uma referência na região.
A COP, no entanto, não é um evento qualquer, como uma Copa do Mundo ou Olimpíadas. Ela carrega, em sua própria razão de existir, a preocupação com a sustentabilidade, a proteção das florestas e produção com menor emissão de gases poluentes. A simbologia é ainda maior quando se considera que será a primeira edição em uma cidade amazônica.
Foi unindo as pontas desse contexto que o Sebrae no Pará focou as atenções para quatro eixos de atuação - hospitalidade, alimentos e bebidas, mobilidade e economia criativa - já ao longo do período que antecede a realização da COP 30, que será em novembro de 2025. Nesse sentido, o diretor superintendente do Sebrae no Pará, Rubens Magno, liderou diversas ações voltadas para o evento, centralizando as iniciativas na Agência Sebrae Pará COP 30. Entre os focos, um olhar mais atento para produtos que tenham origem e práticas sustentáveis, para atender um público que tem esse olhar e preocupação.
Rubens Magno, diretor superintendente do Sebrae Pará, lidera diversas iniciativas para fomentar pequenos negócios para a COP 30. Foto: divulgação.
“O que nós queremos como propósito é colocar o empreendedor de pequenos negócios como protagonista do desenvolvimento sustentável na nossa região e uma referência no Brasil. Não vamos tratar (a COP 30) como um evento passageiro. Assim como outras áreas de um negócio são vistas como prioritárias, como recursos humanos, capital, planejamento, a sustentabilidade também deve ser encarada como um diferencial competitivo, especialmente para o público visitante de investidores que vamos receber.”, afirma Renato Coelho de Souza, coordenador do Comitê Sebrae Pará COP 30.
A ideia, mais do que atender a demanda, é tornar o setor dos pequenos negócios sustentável. Não só nas práticas de produção e serviço, mas também do ponto de vista financeiro, consolidando modelos de negócio de médio e longo prazo. A procura por atendimento confirma a alta expectativa.
Apenas em 2024, o Sebrae contabilizou mais de 18 mil negócios atendidos. “Temos uma série de eventos, formações, capacitações. Desde o ensino da língua inglesa, para reduzir a barreira do idioma, até a gestão dos modelos de negócio, apoiando o empreendedor, seja no estágio que ele estiver, que identifica a oportunidade, mas também o desafio que é entrar nesse contexto que temos pela frente”, destaca Renato.
Para ele, que atua originalmente no ramo da inovação, o conhecimento maior da agenda climática aumentou a compreensão do quanto a pauta vai além do atendimento de um aumento da demanda como evento e sim da importância de fortalecer pequenos negócios produtivos que ajudam a manter a floresta em pé, uma vez que boa parte dos produtos da região tem como base ingredientes que vem da floresta e de comunidades tradicionais, também impactadas com as mudanças climáticas.
“Nos unimos às delegações do Pará e do Brasil e estivemos nas últimas edições da COP. Mais do que vivenciar e encontrar oportunidades e desafios para o atendimento, notamos o quanto essa pauta mundial é também uma pauta prioritária para os pequenos negócios, que tem uma base aqui na nossa região nos produtos da floresta, nas comunidades e que essas pessoas são também as mais sensíveis com impactos de eventos climáticos cada vez mais frequentes e extremos”, afirma Renato, destacando que mais de 80% das empresas no Pará são categorizadas como pequenas e microempresas, contribuindo com a geração de emprego em diferentes etapas da cadeia produtiva.
Cacauaré: das florestas de Mocajuba para as prateleiras da cidade
Da porta da “Casa das Icamiabas”, loja que reúne as marcas Amazônia Artesanal, Mãos (Mercado Amazônia Orgânica Sustentável) e Cacauaré, o primeiro contato visual revela um pouco da história de Belém. Ao fundo, o complexo Feliz Lusitânia, composto pelo Forte do Presépio, a Igreja de Santo Alexandre e a Casa das Onze Janelas. À frente, a Igreja da Sé, de onde sai o Círio de Nazaré, todo segundo domingo de outubro, uma das maiores manifestações culturais e religiosas do país.
Noanny Maia, empreendedora da Cacauaré: reconhecimento nacional e valorização de produtos da comunidade. Foto de Marcio Nagano.
Enquanto a vista observa uma área onde Belém começou a história com a presença dos portugueses, em 1616, o paladar ainda sente o sabor marcante de um chocolate carregado de ancestralidade - algo forte na cultura amazônica, com 100% de cacau nativo da região. Essas são algumas das muitas sensações que o espaço pode proporcionar, além da conversa com Noanny Maia e suas irmãs, que deram vida e identidade para a Cacauaré, uma marca que em menos de cinco anos já vem se consolidando entre os muitos produtos com base na bioeconomia na cidade.
O nome é uma junção do fruto com o local onde as amêndoas que dão origem ao chocolate começaram a ser produzidas: a comunidade do Tauaré. Foi ali que a mãe de Noanny, a professora Nilce Maia - também conhecida como Preta Maia - iniciou a fabricação de geleias e licores, ainda em pequena escala, usando cacau de várzea, integrado com cultivo de outras espécies no sistema de agrofloresta.
Da produção familiar para um negócio foi uma questão de tempo, contexto e conhecimento. Durante a pandemia, em 2020, uma das filhas de Preta Maia, Noanny tinha decidido largar por um período a carreira de advogada, voltada para resolução de causas familiares para cuidar um pouco mais da sua própria, que vivia o luto pela perda recente do pai, vítima de Covid. Ela também enfrentava mau momento, também pelo impacto da pandemia, em outro negócio que havia criado, uma agência de marketing voltada para produtos com origem florestal.
Ao conhecer mais sobre a produção, a identidade do cacau com a história dos seus no território e as oportunidades enquanto negócio - mantendo a família por perto e reforçando os laços - não teve dúvidas e decidiu empreender novamente. “Meu pai era produtor rural numa área de várzea, cultivava açaí, cacau, castanha e andiroba. Me conectei com a comunidade, com a floresta e entendi que poderia trabalhar em um negócio que pudesse unir a comunidade, empoderar as mulheres e decidi agir assim, inspirada na minha mãe, minha avó e outras mulheres”, relembra Noanny.
Os números da Cacauaré revelam os saltos do empreendimento: em 2020, o faturamento foi de 600 reais, quando o negócio engatinhava com licores e geleias. No ano seguinte, aumentou para R$6 mil, incluindo a produção de amêndoas de cacau para venda, ainda sem maior beneficiamento. Foi em 2022 que a Cacauaré se lançou no mercado de chocolates finos, chegando a um faturamento de R$35 mil. “Em 2023 que então lançamos a linha do cacau cerimonial e tivemos um salto de verdade, chegando a um faturamento de R$90 mil. E esse ano fechamos com algo superior a R$200 mil de faturamento”, afirma Noanny.
Os números da produção de barras do cacau cerimonial também mostram um pouco do avanço e conquista desse mercado. De 344 barras em 2023, o último ano fechou com uma produção de 2.800 barras. Por conta disso, hoje o Cacauaré já trabalha com sete comunidades, duas delas quilombolas e uma indígena.
"Hoje, o nosso carro-chefe e que paga as contas, digamos assim, é o cerimonial e atende um público que busca um produto inspirado na medicina do cacau e nos povos originários. Nessa linha temos a pimenta do povo Wai-Wai e os chocolates feitos com o cacau cerimonial", lista Noanny, mostrando a prateleira repleta de outros produtos do portfólio, que inclui granola, nibs, chás, chocolates em gotas e trufa e geleias, licores e biscoitos.
Cacau cerimonial: ritual, terapia e mercado em expansão
A terapeuta integrativa Carla Lima abandonou a carreira de odontóloga para abraçar com o que afirma ter feito mais sentido e propósito em sua vida: o autoconhecimento e o apoio para outras pessoas também se (re) descobrirem. Foi durante a pandemia que descobriu o ritual do cacau cerimonial, durante pesquisas na internet. Fez os cursos e iniciou o uso do chamado cacau medicinal para sua própria experiência. Ao perceber os efeitos positivos e o quanto poderia oferecer os mesmos ganhos para outras pessoas, passou a organizar sessões de rituais.
Carla Lima, terapeuta integrativa, usa o chocolate cerimonial da Cacauaré em suas sessões. Foto de Marcio Nagano.
Os rituais ainda enfrentam preconceitos e mitos, muito por conta do desconhecimento e da associação que a palavra ritual pode gerar em diferentes grupos. Como Noanny Maia explica, o cacau cerimonial é, afinal, cacau. Não possui qualquer aditivo. É feito com 100% de amêndoa de cacau, em processos naturais. E, não: a composição do cacau não possui qualquer elemento com efeito alucinógeno.
A terapeuta, que compartilha momentos e lições sobre as sessões no Instagram (@colmeiavenusiana) explica que o ritual é, na verdade, uma sessão que envolve música, conversa e um chamado para um diálogo interno. “É uma pausa nesse mundo frenético que vivemos e o cacau cerimonial ajuda nesse momento de reflexão onde nos conectamos conosco e com quem estamos, com nossa volta”, explica.
Como consumidora, sendo uma das compradoras das barras de cacau nativo da Cacauaré, Carla Lima explica o que procura num cacau para que possa ser considerado cerimonial. “Primeiro, tem que ser 100% de cacau nativo. Depois, não é algo que você vai e compra no mercado. Eu mesma gosto sempre de conhecer a história, a comunidade que produz, conversar com quem está me vendendo. Precisa levar em conta todo o processo de cuidado com o fruto, desde a plantação, o cultivo e a colheita. Precisamos saber se tem uma conexão espiritual das pessoas que o tocam, manipulam, trabalham com ele e trazem essa energia da floresta”, explica.
A terapeuta comenta que iniciou os rituais utilizando cacau cerimonial da Bahia e quando descobriu a Cacauaré, não teve dúvidas pela troca. “Foi uma boa surpresa, por ser da minha terra, da Amazônia e produzido por mulheres, na floresta. Temos uma riqueza aqui que é muito valorizada e que precisa ser mais reconhecida aqui também. Imagina quantas comunidades podem produzir de maneira sustentável, ter renda e assim manter a floresta em pé também? Acho que estamos num momento de despertar para a nossa riqueza, nossas raízes, nossa origem", comenta.
No ritual em grupo, Carla Lima comenta que são feitas etapas e que cada sessão costuma levar cerca de três horas. O cacau, misturado com água quente, é preparado antes, numa receita que inclui canela, outras especiarias, que pode incluir pimentas e em alguns casos como o de Carla, milho. "O milho traz a força do masculino e era usado pelos povos maias", diz. "Nós sentamos todos juntos, realizamos meditação de abertura e vamos beber. Então cantamos juntos, trazendo essa energia ancestral. Cada ritual tem um propósito e quando estamos em círculo, ouvimos o outro e podemos conhecer mais nossas dores ouvindo a dos outros. E todos que ali estão podem ter maior cura pela compaixão de entender o outro e a si mesmo", detalha.
Conhecido como um superalimento, Carla cita duas características principais que trazem benefícios e são estimulados no ritual. “Tem muitos tipos de rituais. No meu caso, faço da seguinte maneira: o cacau ajuda a trazer a gente pro nosso corpo. O magnésio do cacau, atua nos músculos, ajuda a relaxar. Ao mesmo tempo, a teobromina (outro componente do cacau) atua no coração e dilatam os vasos, é parecido com o café, que deixa a gente mais atento. Então, no nosso ritual temos música, conversa e diálogo, para expandir e trabalhar o coração, a nossa conexão consigo mesmo e a partir disso, com todos à nossa volta”, explica.
Ela acredita que atualmente o ritual do cacau cerimonial tem conquistado mais adeptos e está em expansão, o que pode ajudar mais comunidades com o alto valor agregado desse tipo de produto. “A gente vive um momento muito acelerado, essa energia masculina de fazer e fazer sem olhar para nós. A gente só dá uma pausa quando tem alguma doença e vai para o hospital. É importante esse tempo de parar um pouco e usamos o cacau para isso, para provocar esse momento, esse espaço. E fico ainda mais feliz quando sei que essa prática está também gerando renda para tantas comunidades na Amazônia e pode ter muito mais”, comenta.
Ano é de oportunidade de fortalecer sociobioeconomia, aponta Noanny
Para Noanny Maia, o boom da “marca Amazônia” e a janela de oportunidades com os eventos e visibilidade com a COP 30 em 2025 devem fortalecer ainda mais esse tipo de produção, com reconhecimento e valorização. “É muito ruim quando a gente tenta encapsular um formato e querer que as pessoas façam de um determinado jeito que só assim vai dar certo. Não, pelo contrário. Temos a oportunidade de fazer um resgate de algo que realmente tem valor e propor para o mercado e para um público interessado. Essa é a vitrine. A Amazônia figura hoje como a salvação da crise climática que o mundo vive, mas é preciso compreender o quanto as pessoas que vivem no território devem ser fortalecidas, com qualidade de vida, conforto e fortalecendo sua identidade", comenta.
Sobre o modelo de produção, Noanny destaca a importância de atuação em rede, com pequenos negócios cada vez mais fortalecidos, com diferentes iniciativas e comunidades. "Nós atuamos com produtos e insumos de comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas, além de empregar diretamente no time Cacauaré dez pessoas. Me sinto realizada não só pelo sucesso do empreendimento, mas pelo que consigo articular e impactar no território. Nossa proposta de valor é fortalecer os saberes tradicionais e ancestrais da comunidade. Não quero que todo mundo compre da Cacauaré e sim mais comunidades criem suas “cacauarés” e mais mulheres possam ser empoderadas e que se pague o valor agregado que produzimos, com a economia local e de base”, afirma.
Além da satisfação por impactar positivamente comunidades e clientes, Noanny recebeu outro reconhecimento, dessa vez mais formal. Ela venceu em 2024 a etapa nacional do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios na categoria Pequenos Negócios. “Um dos fatores que estava em avaliação era o foco na sustentabilidade. E nós temos essa cadeia de gestão e de valor pautada em todas as etapas. Pensamos sempre em como nos relacionamos com a natureza e com a comunidade, o quanto os nossos produtos são benéficos para quem produz, mas também claro algo de qualidade e leve saúde para o consumidor final”, destaca.
Com o destaque na premiação e inspirando outras jovens mulheres a empreender, Noanny destaca alguns pontos que precisam ser levados em consideração e o quanto o apoio do Sebrae foi fundamental para sua jornada. "Um primeiro passo é testar, conhecer bem o produto ou serviço. Depois, quando decidir formalizar, procurar o Sebrae, que tem experiência e vai ajudar com design, rótulo, plano estratégico, plano de gestão e de negócio. É algo fundamental para fortalecer a iniciativa empreendedora, seja em que estágio for”, disse.
Noanny personaliza um pouco a força do empreendedorismo feminino, que ainda tem números tímidos. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de mulheres liderando negócios no Pará é de 13,5% em relação à população feminina em idade ativa. Mesmo com esse percentual, o Pará está na segunda colocação nacional entre os Estados. Formada em administração, direito e marketing, Noanny usa o conhecimento tradicional que obteve na faculdade e no mercado, combinado com a troca de experiências com a própria comunidade que voltou a se conectar, na origem de sua família, em Mocajuba.
Para identificar novas oportunidades, Noanny destaca a importância do esforço para a participação em eventos, cursos e formações. “Sempre é importante, mas ainda mais nesse momento que se fala muito das oportunidades com a COP. Eu mesma fiz muitos cursos e participei de eventos e formações que até perdi a conta. Além dos contratos de produtos, como planejamento estratégico, consultoria, também me candidatei e participei de editais que o Sebrae oferece e são boas oportunidades de aprendizado e aumento da rede de relacionamentos”, recomenda Noanny.
Sebrae aumenta orçamento para expandir atividades em 2025
Por conta do alto volume de atividades em 2024 e a perspectiva para este ano, o Sebrae aumentou em cinco vezes o orçamento para as ações em 2025. “Tivemos programas voltados aos negócios de impacto socioambiental e o Inova Amazônia, projetos que levamos capacitação e ampliamos a formação em metodologias ágeis, para criar produtos com inovação e valor agregado. Também firmamos o CredCop, uma linha de crédito com o Banpará, voltado aos pequenos negócios que precisam de capital de giro”, detalha Renato.
Renato Coelho, coordenador do Comitê Sebrae COP 30. Foto: Marcio Nagano.
Segundo ele, com os quatro eixos de maior atuação, um dos focos será também aumentar a capacidade da cidade em abrir vagas de leitos, não só com apoio a pousadas e hostels na cidade, mas também com formação de novos anfitriões para aplicativos de reserva, como o Airbnb. “Desde que o Sebrae iniciou essas capacitações, a plataforma divulgou um aumento na nossa cidade, passando de 700 leitos cadastrados anteriormente para quase 4 mil leitos cadastrados”, afirma Renato.
Para o coordenador do Comitê Sebrae Pará COP 30, a expectativa é que o evento fortaleça ainda mais o setor de serviços e a cultura empreendedora, com foco na bioeconomia e na formação de redes de pequenos negócios, gerando renda para comunidades tradicionais, na periferia e no centro dos centros urbanos como Belém.
“Esse evento representa uma oportunidade única de apresentar os nossos produtos, os nossos costumes e valorizar aqueles que realmente ajudam a manter a floresta em pé, seja por meio da utilização de alguma inovação, criando um produto de valor agregado ou por meio de um modelo de negócio tradicional, nas comunidades, gerando renda e apoiando a fixação no território, sem precisar depender de atividades predatórias como o desmatamento”, avalia Renato.
Esse orçamento maior, além dos eventos e da capacitação - incluindo até educação empreendedora em escolas - o Sebrae prevê apoio a projetos de pequenos negócios voltados para a tecnologia, eficiência e transição energética, gestão de resíduos, isso em todos os eixos”, comenta. Ele também afirma que outra expectativa é que ainda em 2025 seja confirmado o selo de Identidade Geográfica para dois tipos de produtos bem típicos do Pará e que tem forte mercado em Belém, que é o grafismo marajoara e o artesanato de miriti de Abaetetuba. “São ações pensadas em soluções climáticas e baseadas na natureza, valorizando e agregando valor aos negócios que têm como base a bioeconomia”, disse.
Para conhecer mais e seguir
Casa das Icamiabas (Rua Dr. Malcher, 23. Cidade Velha)
@casa.das.icamiabas
@cacauare_amazonia
@amazonia.artesanal
@maos.mercadoamazonia
Leia mais da série
Ep. 4 - Hostel na região das ilhas une conforto com experiência imersiva de olho na demanda com a COP 30
Ep 5 - Brechós em Belém favorecem economia circular e criativa para formar novos consumidores