Procurando quem fale sobre conscientização das mudanças climáticas? Separamos alguns amazônidas

16/03/2025 09:00

Por Samantha Mendes, estagiária de jornalismo, com supervisão de Carla Fischer/ Foto: Marcio Nagano 

“As mudanças climáticas estão no nosso dia a dia. Elas não estão distantes de nós.” A frase da arquiteta e ativista climática Eduarda Batista, da Rede Jandyras, reflete a urgência do debate sobre a crise ambiental. Se antes o tema parecia restrito aos espaços acadêmicos e conferências internacionais, hoje ele se impõe como uma realidade inescapável. Secas e cheias extremas, temperaturas recordes e desmatamento acelerado são alguns dos sinais de que o planeta está em alerta. No Brasil, o Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças do Clima, celebrado em 16 de março, busca ampliar esse debate e reforçar a necessidade de ação imediata.

Na Amazônia, os impactos da crise climática já se manifestam de forma severa. O ciclo das águas, essencial para o equilíbrio da floresta, tem sido alterado por eventos extremos, afetando comunidades ribeirinhas, indígenas e urbanas. O fenômeno El Niño, por exemplo, provocou a pior seca registrada no Amazonas nos últimos anos, deixando cidades isoladas, dificultando o transporte fluvial e comprometendo a pesca e a agricultura.

Diante desse cenário, é fundamental dar espaço às vozes que vivem e resistem nesse território. Quem melhor para falar sobre as mudanças climáticas do que aqueles que enfrentam seus impactos diariamente? Conheça alguns ativistas, comunicadores e pesquisadores que atuam na linha de frente da conscientização climática na Amazônia:

Clayton Nobre, da Casa Ninja Amazônia
"A Mídia Ninja tem o DNA da cultura, e por meio dela fazemos uma disputa simbólica na comunicação. Acreditamos que a cultura traz soluções significativas para a crise climática. Tanto a Casa Ninja Amazônia quanto o Climax defendem que a cultura deve estar no centro desse debate, pois é a partir dela que conseguimos enfrentar essa crise."

Eduarda Batista, da Rede Jandyras (Belém - PA)
"As mudanças climáticas afetam de forma muito particular as mulheres da nossa cidade, mas as políticas públicas não são pensadas para elas. Nossa atuação busca garantir que essas políticas sejam pautadas pela realidade de quem vive diariamente Belém. A luta pelo Fórum Climático foi uma grande conquista, e seguimos trabalhando para que a cidade seja planejada levando em conta suas desigualdades."

Francy Júnior, do Movimento das Mulheres Negras da Floresta
"Usamos a arte como ferramenta para sensibilizar a população sobre a importância da floresta, dos rios e do nosso território. Criamos um grupo de teatro, a Companhia Icamiabas, formada por jovens que levam essa mensagem para os palcos e para o teatro de rua. Esse trabalho tem sido essencial para engajar a juventude manauara na luta contra as mudanças climáticas."

Cleidi Tupinambá, do CITUPI (Conselho Indígena Tupinambá) - Santarém (PA)
"A floresta, os rios e os povos tradicionais estão no centro da crise climática. O Rio Tapajós sofre diariamente com a contaminação por mercúrio e o avanço das barcaças de grãos. Isso impacta diretamente o nosso modo de vida e a segurança alimentar dos nossos povos. O enfrentamento a essa emergência passa pelo fortalecimento da cultura e dos nossos territórios.

Cátia Santos, do Coletivo Varadouro e CNS (Conselho Nacional dos Seringueiros)

“Entendemos que discutir sobre crise climática é muito importante porque isso impacta diretamente o nosso modo de vida, tanto as populações extrativistas, que dependem dos produtos da sociobiodiversidade para a manutenção do seu modo de vida, e também para nós enquanto juventude, porque estamos sendo impactados diretamente.”

Liliane Xavier, da Coalizão Nós, em Manaus (AM)

"As mudanças climáticas já transformam o cotidiano das populações amazônicas. Nosso papel é fortalecer as iniciativas locais e garantir que as soluções construídas nos territórios sejam reconhecidas. Não basta denunciar os impactos da crise climática, é preciso dar visibilidade e apoio às respostas que já existem nas comunidades."

Lukas Tupinambá, do CITA (Conselho Indígena Tapajós), em Santarém (PA)
 "A seca extrema afeta nossa mobilidade e segurança alimentar. O Tapajós está cada vez mais assoreado e contaminado, agravando a crise climática. Enquanto enfrentamos o avanço das dragagens ilegais, seguimos resistindo e cobrando que nossos direitos sejam respeitados. Nenhuma grande obra pode acontecer sem consulta prévia às populações indígenas."

Maurício Araújo - da Associação Onça d’água 
"A atuação em unidades de conservação é essencial para fortalecer a luta climática. O cenário global já mostra que as mudanças estão em curso, e não há mais espaço para dúvidas. O foco agora deve ser mitigar os impactos e garantir um ambiente viável para as futuras gerações. A mobilização coletiva é fundamental para reverter esse quadro e construir soluções que fortaleçam comunidades e preservem os territórios."

Raquel Tupinambá, do CITUPI (Conselho Indígena Tupinambá), em Santarém (PA)
 "A crise climática impacta diretamente mulheres e juventudes indígenas. Precisamos garantir que essas vozes sejam ouvidas e que nossas pautas sejam levadas a sério. Estamos na linha de frente, denunciando violações e propondo soluções. Nosso território já sente os efeitos da destruição ambiental, e lutar por ele é lutar pelo nosso futuro."

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