UM PROJETO

Disparada amazônida

2023-08-29 19:30:00

“Prepare o seu coração, para as coisas que vou contar... que podem não lhe agradar".

Pegando carona na canção lindamente interpretada por Jair Rodrigues (com uma breve adaptação), trago um ponto que ainda tenho visto pouco abordado quando se trata de novas economias e oportunidades na Amazônia. Aliás, todas discussões bem válidas.

Sempre que se fala sobre Amazônia, temos ali um conteúdo. E, em boa medida, esse conteúdo é audiovisual, textual, arte, programação... são inúmeras as formas de linguagem.  E a comunicação, como entendemos no Instituto Bem da Amazônia, é uma ferramenta, estratégia e caminho para apoiar as iniciativas voltadas ao desenvolvimento sustentável na Amazônia.

Chego então ao ponto, puxando direto uma reflexão feita pela Angélica Mendes, do Comitê Chico Mendes, da WWF e neta do ativista ambiental acreano assassinado em 1988. Sempre que se contrata um designer, um fotógrafo, um produtor de conteúdo amazônida, está sendo gerada oportunidade de renda que, afinal, colabora com a floresta em pé. Como assim?

Todas as iniciativas voltadas para a bioeconomia, para a chamada economia verde, para atividades que apoiam a transição por práticas mais sustentáveis são, reforço, dignas e que valem aprofundamento. Mas, ainda pouco se fala sobre um setor que cresce globalmente, movimenta a economia e, no fim das contas, emprega gente: a comunicação. Ela, inclusive, quase nunca é considerada como um setor a ser pensado nessa transição justa.

Angélica usou o exemplo de um designer jovem de uma reserva extrativista. Esse jovem, com um computador, internet, qualificação e oportunidade, pode trabalhar e ter renda com uma atividade que vai permitir uma nova cadeia econômica. Com mais trabalho, pode agregar outros.

Assim, se vislumbra num grupo uma atividade que é uma boa alternativa de desenvolvimento profissional, gerando renda com a floresta em pé, vista da sua janela. Então, esse grupo se afasta e até ajuda a denunciar práticas que até poderiam lhe dar alguma renda para viver, mas que destrói essa mesma floresta.

A reflexão de Angélica ocorreu durante um encontro com produtores de conteúdo de diversas partes do país, quando ela comentava a iniciativa do Amazônia Vox, plataforma que cria um Banco de Fontes da Amazônia, reúne profissionais freelancers de comunicação da região e produz conteúdo baseado em Jornalismo de Soluções. 

Então, se uma empresa ou organização precisa de fotos de povos indígenas, por que não contratar ou procurar um fotógrafo indígena? Para uma produção de reportagem em comunidades ribeirinhas, um profissional local pode ser acionado. E assim avançamos para todos os recortes possíveis e imagináveis numa região complexa e diversa, inclusive nas cidades da Amazônia urbana e em comunidades quilombolas.

Nessa complexidade amazônica, temos aqui mesmo profissionais, empresas, agências e gente. Aqueles que, com oportunidade, contribuem com práticas sustentáveis, ainda que indiretamente. Por isso, vejo com muita expectativa positiva as muitas iniciativas sobre a Amazônia, como a fundação do Capítulo Amazônia da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje). Que venham ainda mais conexões, formações, diálogos e trocas. 

Mas que, cada vez mais, reconheçam o fato de que fortalecer o ecossistema de comunicação amazônico é, também, dar uma boa contribuição para essa região, tão falada e que precisa ser, de fato, mais ouvida e considerada em todos os processos. E esse é apenas um pequeno, dos muitos possíveis, recortes quando pensamos nos desafios e possibilidades aqui na Amazônia. Estamos prontos, com diálogo e conexão, para apoiar uma produção de conteúdo sobre a Amazônia com maior protagonismo e participação dos amazônidas.

Ah! Se você veio para esse texto atraído por essa imagem (e que foto!), veja só: é de um amazônida, Marcio Nagano. E, sim... Ele está no banco de freelancers do Amazônia Vox.


*Daniel Nardin é diretor-presidente do Instituto Bem da Amazônia e idealizador da plataforma Amazônia Vox, que cria um Banco de Fontes de Conhecimento da região e uma rede de freelancers da Amazônia. É jornalista e mestre em comunicação com vinte anos de atuação profissional na região.